Imagine-se ainda que somado a dor que traz uma depressão o sujeito ainda tem de se equilibrar diante de cobranças sociais de desempenho e aparência! Vivemos numa cultura hedonista, que teima em reconhecer a dor, o feio, aquilo que não seja prazeroso. Mas nem sempre vivemos assim. Até a metade do século XX, a moral da primeira fase do capitalismo era a do adiamento da satisfação, da sobriedade e até mesmo do sacrifício. No entanto, a velocidade do dia a dia imprimiu um novo significado em nossas vidas.
Os imperativos da alegria e do gozo inadiáveis têm um alto custo para o sujeito. Quando surge a dor e a perda, que são processos vitais para o ser humano, muitos aconselham a tomar algum remédio contra a depressão. Em outras palavras, além da falta de vontade de viver, da sensação de que nada vale a pena e de todo o sofrimento que um depressivo experimenta, acrescenta-se agora um sentimento de culpa de se estar deprimido. Eis por que, cada vez mais, torna-se uma questão de ordem não se apresentar deprimido. A solução imediata é fornecida pelo antidepressivo, mas o remédio sozinho não cura nos casos mais graves. A medicação prescrita por um médico psiquiatra auxilia a pessoa a ter ânimo e fazer algumas atividades, e isso deveria incluir a busca por um tratamento terapêutico. O antidepressivo sozinho, sem o acompanhamento de uma terapia, produz um alívio imediato, depois uma indiferença e, finalmente, um vazio. Eis a tradução do custo adicional da solução rápida: a produção de um sujeito esvaziado. Então, se temos, de um lado, a depressão como um sentimento de empobrecimento da vida subjetiva, de outro lado, não se deve adotar como saída radical o esvaziamento das emoções e pensamentos, pois isso também tornará a vida insuportável.