EMT para Depressão Resistente

EMT para Depressão Resistente

por Dr Bruno Machado, Médico Psiquiatra pela USP 

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Como psiquiatra em São Paulo, recebo diariamente pessoas que chegam ao meu consultório carregando uma bagagem pesada. Anos de tentativas frustradas com diferentes antidepressivos, efeitos colaterais indesejados e, principalmente, a sensação de que “nada funciona para mim”.

Se está lendo este texto, provavelmente se identifica com essa realidade. Vemos com frequência no consultório pessoas que passam por essa frustração.

A boa notícia é que a medicina evoluiu significativamente. Hoje temos à disposição a Estimulação Magnética Transcraniana, EMT para depressão resistente – uma técnica não invasiva que tem transformado o tratamento de casos complexos, oferecendo esperança real para quem já tentou múltiplas abordagens sem sucesso.

O que é a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT)?

A EMT é uma técnica de neuromodulação que utiliza campos magnéticos para estimular áreas específicas do cérebro relacionadas ao humor e às emoções.

Diferentemente dos medicamentos, que agem em todo o organismo, a EMT para depressão resistente atua diretamente nos circuitos neurais que não estão funcionando adequadamente. Portanto, oferece uma abordagem mais precisa e com menos efeitos colaterais.

Durante o procedimento, uma bobina magnética é posicionada sobre o couro cabeludo. Ela gera pulsos magnéticos que atravessam o crânio e estimulam o córtex pré-frontal dorsolateral – uma região cerebral com funcionamento menos ativo em pessoas com depressão.

Essa estimulação promove a neuroplasticidade. Em outras palavras, ajuda o cérebro a formar novas conexões neurais e restaurar o funcionamento adequado dos circuitos cerebrais do humor.

EMT na depressão resistente

O que a ciência diz sobre a EMT para Depressão Resistente?

Resultados Reais em Casos Resistentes ao Tratamento

Os resultados da EMT para depressão resistente são consistentemente encorajadores. Embora cada pessoa seja única, múltiplas pesquisas científicas demonstram eficácia significativa.

Pesquisa com milhares de pacientes (Vida et al., 2023) mostrou que pessoas com depressão que não melhoraram com pelo menos dois antidepressivos têm 2,25 vezes mais chance de melhora com EMT. Além disso, têm 2,78 vezes mais chance de remissão completa, o que é muito significativo já estamos falando dos casos de mais difícil resposta ao tratamento.

Estudo multicêntrico no Japão (Matsuda et al., 2024) com pessoas com depressão resistente demonstrou:

• 54% das pessoas apresentaram melhora significativa

• 43% alcançaram remissão completa, com desaparecimento total dos sintomas

Revisões científicas abrangentes (Miron et al., 2021; Berlim et al., 2013) confirmam que a EMT para depressão resistente apresentam:

• 40-55% de taxa de resposta

• 25-43% de taxa de remissão

• Apenas 3-12% de abandono

O Que Significa “Melhora” na Prática?

Quando falamos em melhora com EMT para depressão resistente, estamos nos referindo a mudanças concretas na vida das pessoas: 

Voltar a sentir prazer em atividades que antes eram prazerosas

Ter energia para realizar tarefas do dia a dia

Conseguir dormir melhor e ter um sono reparador

Redução significativa da tristeza persistente

Melhora na concentração e capacidade de tomar decisões

Retorno do interesse em relacionamentos e atividades sociais

“Pela Primeira Vez em Anos, Voltei a Sentir Eu Mesmo”

Uma das frases que mais escuto no consultório vem de pessoas que fizeram EMT. Muitas me relatam que, pela primeira vez em muito tempo, conseguiram acordar sem aquela sensação de peso no peito.

Um paciente me disse recentemente: “Doutor, eu não acreditava que fosse possível voltar a rir de verdade. Achei que tinha perdido essa capacidade para sempre.”

Embora nem todos tenham a mesma resposta, é gratificante ver como a EMT para depressão resistente pode devolver às pessoas a capacidade de se reconectarem com a vida.

infográfico emt na depressão resistente

Segurança: Um Perfil Excepcional

Uma das grandes vantagens da EMT para depressão resistente é sua excelente segurança.
Conforme demonstrado por Gallop et al. (2024) e Zorzo et al. (2019), os efeitos colaterais são mínimos e infrequentes:

• Desconforto leve no couro cabeludo durante a aplicação

• Dor de cabeça leve e passageira

• Contrações musculares locais durante o procedimento

No entanto, eventos adversos são muito mais raros do que no caso dos remédios. A taxa de abandono do tratamento é baixa (3-12%), muito inferior à observada com medicamentos antidepressivos. Isto significa que, a cada dez pacientes, nove conseguem concluir o tratamento sem ter que passar pelos efeitos colaterais típicos de medicamentos. Ao contrário dos remédios, não há risco de desconforto gástrico, sonolência, perda de libido, tremores, tontura, alergias, dentre outros.

Durabilidade: Benefícios que Se Mantêm

Um aspecto fundamental para quem já passou por múltiplas tentativas de tratamento é saber se os benefícios se mantêm.

Senova et al. (2019) demonstraram que aproximadamente 50% das pessoas que respondem inicialmente à EMT mantêm a melhora por até um ano, especialmente quando realizam sessões de manutenção.

Para pessoas que apresentam resposta tardia ou parcial, Razafsha et al. (2022) mostraram que sessões adicionais podem potencializar os resultados. Isso oferece uma abordagem flexível e personalizada.

Eficácia Além da Depressão: Outras Condições Tratáveis

Embora o foco deste texto seja a EMT para depressão resistente, é importante destacar que algumas técnicas de EMT também demonstram eficácia para outras condições.

Transtornos de Ansiedade

Zhang et al. (2022) demonstraram que a EMT para transtorno de ansiedade generalizada apresenta:

80,6% de taxa de resposta no grupo que recebeu tratamento ativo

• 71,0% de taxa de remissão

Portanto, pessoas com depressão resistente que também apresentam sintomas ansiosos podem se beneficiar duplamente do tratamento.

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)

A EMT para TOC tem aprovação do FDA. Conforme múltiplos estudos (Di Passa et al., 2024; Bersani et al., 2013), mostra melhora significativa dos sintomas obsessivo-compulsivos.

Protocolos Personalizados: Adequando a EMT a Cada Pessoa

Atualmente, dispomos de diferentes modalidades de EMT para depressão resistente:

EMT Convencional

Sessões diárias por 4-6 semanas, com excelente eficácia comprovada. Embora seja o protocolo mais tradicional, continua sendo altamente eficaz.

EMT Acelerada

Shi et al. (2024) demonstraram que a EMT acelerada oferece melhora ainda mais rápida dos sintomas. É particularmente útil para pessoas que necessitam de resultados mais imediatos e duradouros.

EMT Profunda

Utiliza bobinas especiais que atingem estruturas cerebrais mais profundas. Conforme Di Passa et al. (2024), é particularmente útil no TOC e em alguns casos específicos de depressão resistente.

Em cada modalidade acima, a escolha do protocolo específico deve ser individualizada pelo médico, considerando o quadro clínico, os diagnósticos associados e as características específicas de cada pessoa.

Quem Pode Se Beneficiar da EMT para Depressão Resistente?

A EMT para depressão resistente é particularmente indicada para: 
• Pessoas com depressão que não responderam adequadamente a pelo menos dois antidepressivos

• Quem apresentou efeitos colaterais intoleráveis com medicações

• Pessoas que preferem evitar ou reduzir o uso de medicamentos

• Casos de depressão com sintomas ansiosos 

• Fibromialgia e dores crônicas

• Transtorno obsessivo-compulsivo resistente ao tratamento convencional

Uma Abordagem Integrada ao Cuidado

É importante ressaltar que a EMT para depressão resistente não substitui necessariamente outros tratamentos. Pode ser integrada a uma abordagem terapêutica mais ampla.

Muitas pessoas se beneficiam da combinação da EMT com psicoterapia. Embora algumas possam manter medicações, frequentemente em doses reduzidas.

O fundamental é que cada caso seja avaliado individualmente. Consideramos o histórico clínico, as tentativas prévias de tratamento e os objetivos terapêuticos específicos de cada pessoa.

Considerações Finais

Se chegou até aqui, provavelmente já passou por uma jornada difícil na busca por um tratamento eficaz.

Eu entendo essa frustração. Sei como é desgastante tentar tratamento após tratamento sem ver resultados significativos.

A EMT para depressão resistente representa uma esperança real e cientificamente fundamentada para quem não encontrou alívio com abordagens convencionais.

Como médico, posso afirmar que testemunho regularmente a transformação que essa técnica proporciona na vida das pessoas. Embora não se trate de uma promessa milagrosa, é uma ferramenta terapêutica robusta, com eficácia comprovada e perfil de segurança favorável.

Portanto, caso se identifique com o perfil de pessoa que pode se beneficiar da EMT para depressão resistente, considere buscar uma avaliação especializada.

Importante: As informações contidas neste artigo são para fins educacionais e não substituem a consulta médica individualizada. Cada caso deve ser avaliado por um profissional qualificado para determinar a melhor abordagem terapêutica.

Para mais informações sobre a EMT para depressão resistente e avaliação da adequação do tratamento ao seu caso específico, agende uma consulta. Nossa equipe está preparada para esclarecer suas dúvidas e apresentar as opções terapêuticas mais adequadas para sua situação.

REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

Berlim, M. T., Van den Eynde, F., Tovar-Perdomo, S., & Daskalakis, Z. J. (2013). Response, remission and drop-out rates following high-frequency repetitive transcranial magnetic stimulation (rTMS) for treating major depression: a systematic review and meta-analysis of randomized, double-blind and sham-controlled trials. Psychological Medicine, 44(2), 225-239. https://doi.org/10.1017/S0033291713000512

Bersani, F. S., Minichino, A., Enticott, P. G., Mazzarini, L., Khan, N., Antonacci, G., Raccah, R. N., Salviati, M., Delle Chiaie, R., Bersani, G., Fitzgerald, P. B., & Biondi, M. (2013). Deep transcranial magnetic stimulation as a treatment for psychiatric disorders: A comprehensive review. European Psychiatry, 28(1), 30-39. https://doi.org/10.1016/j.eurpsy.2012.02.006

Cash, R. F. H., & Zalesky, A. (2023). Personalized and circuit-based transcranial magnetic stimulation: Evidence, controversies, and opportunities. Biological Psychiatry, 95(6), 510-522. https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2023.11.013

Di Passa, A., Prokop-Millar, S., Yaya, H., Dabir, M., McIntyre-Wood, C., Fein, A., MacKillop, E., MacKillop, J., & Duarte, D. (2024). Clinical efficacy of deep transcranial magnetic stimulation (dTMS) in psychiatric and cognitive disorders: A systematic review. Journal of Psychiatric Research, 175, 287-315. https://doi.org/10.1016/j.jpsychires.2024.05.011

Gallop, L., Westwood, S., Hemmings, A., Lewis, Y., Campbell, I., & Schmidt, U. (2024). Effects of repetitive transcranial magnetic stimulation in children and young people with psychiatric disorders: a systematic review. European Child & Adolescent Psychiatry, 34(2), 403-422. https://doi.org/10.1007/s00787-024-02475-x

Lan, X., Yang, X., Mo, Y., Deng, C., Huang, X., Cai, D., & Zheng, W. (2024). Deep transcranial magnetic stimulation for treatment-resistant depression: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled studies. Asian Journal of Psychiatry, 96, 104032. https://doi.org/10.1016/j.ajp.2024.104032

Matsuda, Y., Kito, S., Hiraki, F., Izuno, T., Yoshida, K., Nakamura, M., Kodaka, F., Yamazaki, R., Taruishi, N., Imazu, S., Kanazawa, T., Mekata, T., Moriyama, S., Wada, M., Nakajima, S., Sawada, K., Watanabe, S., Takahashi, S., Toi, Y., Hayashi, D., Igarashi, S., Fujiyama, K., Ikeda, S., Tateishi, H., Kojima, R., Sato, K., Boku, S., Takebayashi, M., Ogura, M., Takaya, A., Endo, K., Kita, A., Arai, H., Kamimura, H., Matsuo, K., Denda, K., Yamashiro, S., Yoshioka, D., Kizaki, J., Masaru, M., & Noda, Y. (2024). A multisite observational real-world study on the effectiveness of repetitive transcranial magnetic stimulation therapy for patients with treatment-resistant depression in Japan. Psychiatry Research, 342, 116263. https://doi.org/10.1016/j.psychres.2024.116263

Miron, J. P., Jodoin, V. D., Lespérance, P., & Blumberger, D. M. (2021). Repetitive transcranial magnetic stimulation for major depressive disorder: basic principles and future directions. Therapeutic Advances in Psychopharmacology, 11, 20451253211042696. https://doi.org/10.1177/20451253211042696

Razafsha, M., Barbour, T., Uribe, S., Behforuzi, H., & Camprodon, J. A. (2022). Extension of transcranial magnetic stimulation treatment for depression in non-responders: Results of a naturalistic study. Journal of Psychiatric Research, 158, 314-318. https://doi.org/10.1016/j.jpsychires.2022.12.038

Senova, S., Cotovio, G., Pascual-Leone, A., & Oliveira-Maia, A. J. (2019). Durability of antidepressant response to repetitive transcranial magnetic stimulation: Systematic review and meta-analysis. Brain Stimulation, 12(1), 119-128. https://doi.org/10.1016/j.brs.2018.10.001

Shi, R., Wang, Z., Yang, D., Hu, Y., Zhang, Z., Lan, D., Su, Y., & Wang, Y. (2024). Short-term and long-term efficacy of accelerated transcranial magnetic stimulation for depression: a systematic review and meta-analysis. BMC Psychiatry, 24(1), 116. https://doi.org/10.1186/s12888-024-05545-1

Tan, X., Singh, H., Koh, J. W. L., Tan, R. Y., & Tor, P. C. (2024). Personalised transcranial magnetic stimulation for treatment-resistant depression, depression with comorbid anxiety and negative symptoms of schizophrenia: a narrative review. Singapore Medical Journal, 65(10), 544-551. https://doi.org/10.4103/singaporemedj.SMJ-2024-133

Vida, R. G., Saghy, E., Bella, R., Kovacs, S., Erdősi, D., Józwiak-Hagymásy, J., Zemplényi, A., Tényi, T., Osvath, P., & Voros, V. (2023). Efficacy of repetitive transcranial magnetic stimulation (rTMS) adjunctive therapy for major depressive disorder (MDD) after two antidepressant treatment failures: meta-analysis of randomized sham-controlled trials. BMC Psychiatry, 23(1), 547. https://doi.org/10.1186/s12888-023-05033-y

Zhang, B., Zeng, S., Tang, C., Su, M., Luo, X., Liang, H., & Yang, L. (2022). Infralow-frequency transcranial magnetic stimulation as a therapy for generalized anxiety disorder: A randomized clinical trial. Comprehensive Psychiatry, 117, 152332. https://doi.org/10.2139/ssrn.4068600

Zorzo, C., Banqueri, M., Higarza, S. G., Pernía, A. M., & Arias, J. L. (2019). Current state of transcranial magnetic stimulation and its use in psychiatry. Actas Españolas de Psiquiatría, 47(3), 110-120.

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